sábado, 28 de agosto de 2010

Resistir e Impedir a Construção de Belo Monte




Por Ricardo Machado*

“Hoje, para quem quiser se engajar, não é mais possível ser só ambientalista, ou só militante de causas sociais, políticas, culturais. É preciso se engajar em tudo, ser militante da civilização.”
Marina Silva.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito, em 2003, Lula declarou que seu governo seria “um guardião da Amazônia e da sua biodiversidade” e que seu programa de desenvolvimento, em especial para a região, seria “marcado pela responsabilidade ambiental”. foi ficando cada vez mais clara sua opção pela internacionalização da região, através do apoio inconteste ao agronegócio exportador, às mineradoras e às grandes hidrelétricas, tudo em detrimento da nossa diversidade cultural e biológica.
“Quando o presidente Lula me deu uma medalha, ele disse que não ia assinar a construção da barragem de Belo Monte”, afirmou ontem em São Paulo o líder indígena Raoni, ao lado de um velho amigo, o cantor britânico Sting. “Fico preocupado: será que ele falou a verdade para mim?”, questionou o cacique, tendo como intérprete seu sobrinho, o líder indígena Megaron. Raoni recebeu, em 2007, a Ordem do Mérito Cultural do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.( O Estado de S. Paulo – 23/11/2009).

Se nunca questionamos, e aceitamos passivamente a primeira coisa que ouvimos, estaremos sempre enxergando só “o que somos ensinados a enxergar”. Somos aquilo que vemos as vezes esquecemos que as verdades estão escondidas não embaixo dos panos, mas sob nossos olhares, somos cegos? Não vemos que o horizonte se reluz mais perto, o mundo esta aí, à beira de guerras, drogas, mandos e desmandos, geralmente causada por vaidades e cobiças, certos pecados capitais, a terra gira, e tonta pede socorro, animais que não existem mais são lembranças do que está por vir, e o que eu e você fazemos, shows a beira da praia? Estádios lotados de falsos moralistas abraçando a paz mundial, todos horas depois se esquecem do motivo, e vêem a caça de mais presas, assim somos predadores, somos caçadores com a roupa negra do petróleo, quantos kamikazes criaremos para extinguir nossa raça?

O acesso à informação ambiental é um direito básico garantido por normas internacionais e pela legislação brasileira. Trata-se de pressuposto da gestão democrática dos recursos ambientais. Sem acesso à informação pertinente, a tomada de decisão não é eficaz, é falha, e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito fundamental do cidadão, não pode ser garantido. A participação pública em processos de tomada de decisão sobre a gestão ambiental depende do amplo acesso à informação fidedigna e pertinente.Tomar decisão consiste em escolher a melhor alternativa de acordo com critérios estabelecidos, a partir de uma certa quantidade de informações, com o propósito de atingir um objetivo estabelecido. Outro problema na tomada de decisão consiste da escolha da melhor alternativa de acordo com critérios estabelecidos, a partir de uma certa quantidade de informações. A “Declaração do Rio”, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), estabelece o princípio Dez que determina: “As questões ambientais são melhor administradas com a participação de todos os cidadãos interessados, nos níveis apropriados. No nível nacional, cada cidadão deve ter acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente, sob a guarda das autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais perigosos e atividades realizadas em suas comunidades, e a oportunidade de participar em processos decisórios. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização pública através do fornecimento amplo de informações. Acesso efetivo a procedimentos judiciais e administrativos, inclusive compensação e remédios legais, deverão ser disponibilizados”.

Um numeroso grupo de pesquisadores de várias universidades brasileiras e algumas do exterior uniram-se para procederem a uma análise crítica do Estudo de Impacto Ambiental – EIA, do projeto que trata da construção do Aproveitamento Hidroelétrico de Belo Monte – AHE Belo Monte, no Rio Xingu/Pará. Esse grupo, autodenominado “painel de especialistas”, nasceu de uma demanda de movimentos sociais de Altamira/Pará e tem o respaldo da Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), do Instituto Sócio Ambiental – ISA, da Internacional Rivers, do WWF, da FASE e da Rede de Justiça Ambiental. Conta com o apoio de 42 pesquisadores voluntários, dos quais 28 apresentaram um conjunto de pareceres que reduz a pó o pré-falado EIA-RIMA.

Sintetizado em algumas linhas o que eles acham do projeto, os cientistas, sem papas na língua, disseram que “O Brasil não precisa da AHE Belo Monte”. E acrescentaram: “É um projeto cheio de problemas que deveria ser abandonado”. Estes ambientalistas já demonstraram inúmeras vezes à inviabilidade técnica, financeira, a falta de necessidade da obra, a possibilidade de fontes substitutas, os inúmeros crimes ambientais que seriam cometidos, a irreversibilidade dos impactos, as perdas com o turismo potencial etc. Diversos movimentos sociais e moradores das regiões afetadas já se manifestaram contrários à obra, mesmo com o enorme esforço de cooptação. As cartas já estão todas na mesa. A solução agora é política e, antes de tudo, ética.
O biólogo e pesquisador do INPA Philip Fearnside comparou a mentira institucionalizada de Belo Monte àquela montada nos Estados Unidos com relação à Guerra do Vietnã: os jovens que se opunham à guerra (e, agora, à barragem) eram tachados de inconseqüentes irresponsáveis. Os que não podiam ser desqualificados como tal por serem respeitados intelectuais eram acusados de “mal informados”.


O que dizem os estudiosos independentes.

Em síntese, os problemas levantados pelo Painel de Especialistas sobre o EIA de Belo Monte são:

- Sobre os estudos:

• Inconsistência metodológica;
• Ausência de referencial bibliográfico adequado e consistente;
• Ausência e falhas nos dados;
• Coleta e classificação assistemáticas de espécies, com riscos para o
• conhecimento e a preservação da biodiversidade local;
• Correlações que induzem ao erro e/ou a interpretações duvidosas;
• Utilização de retórica para ocultação de impactos.

- Sobre os impactos:

• Subdimensionamento da área diretamente afetada;
• Subdimensionamento da população atingida;
• Subdimensionamento da perda de biodiversidade;
• Subdimensionamento do deslocamento compulsório da população rural e
• urbana;
• Negação de impactos à jusante da barragem principal e da casa de força;
• Negligência na avaliação dos riscos à saúde;
• Negligência na avaliação dos riscos à segurança hídrica;
• Superdimensionamento da geração de energia;
• Subdimensionamento do custo social, ambiental e econômico da obra.

O quadro que as análises do painel de especialistas pintam é de morte e extinção de animais e plantas, perda de recursos hídricos, caos causado pela migração de dezenas de milhares de pessoas e prejuízo à cultura indígena – um “desastre anunciado”, diz o texto. Sob a ótica deles, o projeto é inviável economicamente.

Estima-se que mais de 20 mil pessoas serão desalojadas pelo empreendimento, incluindo populações indígenas que vivem há centenas de anos nestas áreas. Lideranças locais, pesquisadores e técnicos envolvidos na discussão há anos consideram que o projeto representa uma ameaça concreta à sobrevivência física e cultural destes povos. Não queremos ter uma segunda Balbina e nos arrepender irremediavelmente.’

O Brasil é signatário da Convenção 69 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante os direitos dos povos indígenas. Essa convenção prevê que o governo precisa conseguir o consentimento prévio, livre e informado dos povos indígenas, antes de tomar medidas que os afetem. No caso de Belo Monte, Megaron afirmou que não teve nenhuma notícia de conversas para apresentar o projeto e conseguir o consentimento.

O Estudo de Impactos Ambientais (EIA) do aproveitamento hidrelétrico do Rio Xingu, pela Usina de Belo Monte, apresenta omissões extremamente graves, de acordo com o coordenador do painel de especialistas um dos autores do trabalho Análise Crítica do Impacto Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte, Francisco Del Moral Hernandez.“Esse estudo apresentou problemas metodológicos que resultaram na subestimação da população atingida e da área diretamente afetada e, também, uma subcontagem da economia regional”, disse hoje (2/2/2010) o pesquisador na Comissão de Direitos Humanos do Senado. O estudo, segundo ele, faz uma omissão grave por considerar apenas os efeitos que serão sofridos na calha do Rio Xingu, como se apenas ela fosse afetada pelas obras, “desconsiderando as conseqüências das obras nas margens do rio”.

Como diz o Senador José Nery (PSOL/PA), a implantação de um projeto como este não irá atender às populações e acarretará em prejuízos, como aconteceu com a usina hidrelétrica de Tucuruí. Segundo o senador, Tucuruí “deixou um rastro de destruição e desestruturação dos moradores que habitavam aquela área e que muito deles ainda hoje não têm sequer energia elétrica em suas casas”.

Entendo que a única diferença entre Tucuruí e Belo Monstro, quer dizer Belo Monte, é que aquela foi uma obra planejada pelo governo militar, numa época em que não havia estudo de impacto ambiental e que os direitos das populações locais pouco importavam. Hoje, porém, temos direitos constitucionalmente garantidos e um sistema de avaliação de impacto ambiental estruturado exatamente para evitar que absurdos como aquele voltem a se repetir com significativos impactos sociais e ambientais. Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

“A usina é uma prova, sobretudo, de como o Brasil enxerga o futuro pelo espelho retrovisor”, diz Furtado. “Ao invés de pensar a Amazônia como uma região para a expansão de mega usinas hidrelétricas, o governo deveria planejar o seu desenvolvimento de olho na floresta como um ativo de interesse mundial”.
“Belo Monte é uma resposta medíocre para o desafio de gerar energia para o país”, diz Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace no Brasil.
Do ponto de vista ambiental, ela repete erros que o país cometeu no passado, alagando áreas de floresta relevantes para construir mega hidrelétricas. Itaipu afogou o Parque Nacional de Sete Quedas na década de 1970. Quarenta anos depois, Belo Monte vai provocar um desmatamento de 50 mil hectares em zona de mata, ainda razoavelmente conservada, em pleno coração da Amazônia.
Com 40 condicionantes, a Licença Prévia (LP) permite a realização do leilão de Belo Monte, ainda sem que importantes impactos tenham sido identificados.

O Parecer Técnico nº. 114/2009, de 23 de novembro de 2009, que subsidiou a licença, não encontrei disponível na Internet, expõe que “tendo em vista o prazo estipulado pela Presidência, esta equipe não concluiu sua análise a contento. Algumas questões não puderam ser analisadas na profundidade apropriada, dentre elas as questões indígenas e as contribuições das audiências públicas. Além disso, a discussão interdisciplinar entre os componentes desta equipe ficou prejudicada. Essas lacunas refletem-se em limitações neste Parecer”. É possível atestar a viabilidade de uma obra e anunciar valores de mitigações sobre o que ainda não se conhece? No caso de Belo Monte, parece que sim.

Callado (2000) recomenda, antes de qualquer decisão, que seja elaborado um trabalho de identificação dos custos ambientais, definindo uma metodologia que possibilite sua identificação e mensuração, separando os gastos por categorias, o que evidenciará onde deveremos atuar para gerar mais eficiência, bem como fornecer subsídio ao planejamento estratégico.

Questões não respondidas

Na coletiva organizada para divulgar a licença foram destacados o número de condicionantes – 40 – e o valor das medidas mitigadoras – R$ 1,5 bi “aproximadamente”. Mas como numa avaliação de impacto ambiental a questão não é quantidade, mas qualidade, é importante ver se as questões centrais ainda em aberto levantadas no parecer de novembro/2009 foram resolvidas.

Um dos pontos mais importantes diz respeito ao trecho de vazão reduzida – TVR. São mais de 100 km de rio que viverá uma “eterna seca” por conta do desvio do rio, por meio de imensos canais, até a casa de força. Nesse trecho estão localizadas duas Terras Indígenas e algumas centenas de família ribeirinhas, que dependem do rio para comer e se transportar. Ele também abriga uma rica biodiversidade aquática (peixes e quelônios).

Quanto mais água for artificialmente liberada para esse trecho – “hidrograma do TVR”, no jargão técnico – melhor para a fauna e para as pessoas do local, mas pior para a geração hidrelétrica, pois menos água estará disponível para girar as turbinas. Dependendo de quão grave será a seca, a vida nesse trecho poderá ser inviabilizada, o que significa que deverá haver remoções e indenizações para as pessoas, e lamentos para perda da fauna aquática. Sabendo que a hidrelétrica reduzirá drasticamente sua capacidade de geração nos meses secos, pois não terá reservatório de acumulação, é previsível que venha a existir uma intensa disputa pela água entre a empresa que a gerir – a ser definida no leilão que ocorrerá nos próximos meses – e as comunidades locais. Como é improvável que estas últimas vençam essa disputa, é função do órgão ambiental arbitrar o “hidrograma”, de tal forma que a vida continue sendo possível nesse trecho, mesmo que alterada.
Em novembro/2009, o Ibama dizia que os estudos sobre o “hidrograma de consenso” (não é possível aferir entre quem) não permitiam responder a essa questão básica. Agora, na licença, afirma que ele “deverá ser testado após a conclusão da instalação da plena capacidade de geração da casa de força principal”, mas que “a identificação de importantes impactos na qualidade de água, ictiofauna, vegetação aluvial, quelônios, pesca, navegação e modos de vida da população da Volta Grande poderão suscitar alterações nas vazões estabelecidas e conseqüente retificação na licença de operação”. Pelo que é possível inferir – o parecer técnico que subsidiou a licença também não está disponível na Internet – a questão simplesmente não foi resolvida, mas a obra foi liberada com o compromisso de que, depois de pronta, se houver problema, será determinado o aumento da vazão nesse trecho, e, portanto menos geração de energia.

Outro ponto importante diz respeito à qualidade da água nos mais de 500 km2 de áreas a serem inundadas. O parecer de novembro apontava “elevado grau de incerteza” sobre qual será a qualidade da água. A licença prévia resolveu esse problema exigindo da Eletrobrás que garanta “a manutenção da qualidade da água (…) adotando as medidas necessárias”. Ou seja, aparentemente aqui também não se sabe o que vai acontecer. A função do EIA/Rima é exatamente apontar qual será a qualidade da água, e se essa estiver fora dos parâmetros legais, ou muda-se o projeto ou o rejeita. Nesse caso, no entanto, o Ibama adotou o princípio do “deixa do que jeito que está para ver como é que fica”. Como pode a empresa garantir a qualidade da água se ela é derivada de um projeto que já foi aprovado e construído de determinada forma? Depois de construído não tem como mudar.

Quem está interessado no projeto.

Grandes mineradoras, como a Vale e Alcoa, cujo projeto é exportar energia barata em forma de alumínio. Mal se menciona que grande parte da energia vai para alumínio e outros produtos eletro intensivos destinados à exportação.

O grande beneficiário seria a China. Em negociações decorrentes de uma visita presidencial à China em 2004, foi acordada a implementação de uma usina sino-brasileira para alumina (óxido de alumínio) em Barcarena (PA), que se espera ser a maior do mundo quando finalizada. A usina sino-brasileira (ABC Refinaria) espera produzir 10 milhões de toneladas de alumina anualmente, um marco originalmente previsto para ser atingido em 2010. Isto seria maior que a produção anual de sete milhões de toneladas da empresa nipo-brasileira Alunorte no mesmo local — um aumento enorme quando comparado à produção atual da Alunorte de 2,4 milhões de toneladas anuais.

Além disso, a empresa Alcoa, dos Estados Unidos, planeja usar energia gerada em Belo Monte para produzir 800 mil toneladas de alumina anualmente em uma usina nova em Juriti (margem do Rio Amazonas em frente à foz do rio Trombetas).
A produção anual de alumínio da usina nipo-brasileira (Albrás) aumentaria de 432 para 700 mil toneladas. A gestão de custos ambientais deve ser avaliada dentro de uma esfera econômica abrangente, onde não se leve em consideração apenas seus interesses, mas também os interesses da coletividade.

Conseqüências para todos e tudo que fica em mais de 1.500 km quadrados.
Enfim, o que dizer quanto à “Área Diretamente Afetada” pelas obras do Belo Monte? Em nenhum momento antes da divulgação do EIA, foi esclarecido para os interessados que uma obra desse porte ocupa e destrói muito mais terrenos do que as terras alagadas pela represa:
As estradas de acesso aos vários canteiros de obras (Ilha Pimental, nas duas margens do Xingu, os canais dos igarapés Maria e Gaioso, o vertedouro complementar do Igarapé Paquissamba, o prédio principal da Casa de força da usina na margem esquerda do Xingu perto de Santo Antonio do Belo Monte, o novo porto projetado para a obra, no município de Vitória do Xingu) e também.
A passagem das linhas de alta tensão necessárias a esses canteiros durante as obras. Obs: Conforme o EIA… Não foram considerados, também, os imóveis rurais pesquisados ao longo das faixas de domínio das linhas de transmissão previstas, já que, em princípio, não deverá haver retirada de moradores nesses imóveis.

E mais:

As áreas das construções dos alojamentos de funcionários em todos esses locais, mais.
A área dita de empréstimo de materiais para a obra: locais aonde vai se retirar areia, pedra, madeira, e ainda.
A área dita de “deposição de rejeitos”, ou seja, onde será depositado tudo que for removido para a construção dos prédios e para a abertura dos terrenos necessários: a terra, as pedras, a mata e os demais tipos de cobertura vegetal, mais o entulho das construções existentes a demolir.
Rosa Couto e José da Silva, ao criticar o EIA, afirmam que “não foi construído o inventário das substâncias químicas inerentes à produção de energia elétrica. (…) No EIA flagra-se a desconsideração por parte do empreendedor da análise dos efeitos à saúde humana, especialmente, área esta definida no próprio estudo como sujeita à deterioração da qualidade do ar por conta das emissões de poluentes”. Dá a impressão de que houve um “corte e cola” de críticas feitas a alguma outra usina, só que termoelétrica, não hidrelétrica.

Conforme o EIA:

A área diretamente afetada pelo empreendimento é de 152.205 ha ou 1.522 km² do total de área coberta com vegetação nativa que será suprimida para a instalação das obras auxiliares e principais, estima-se que corresponde a 50.188 ha (33%) de cobertura florestal (formações ombrófilas densas e abertas) e 23.780 ha (15,6%) de formações pioneiras das áreas de pedrais que serão substancialmente alterados por efeito dessas atividades. (pg. 113 da seção “Avaliação dos Impactos” da versão do EIA de fevereiro de 2009).

Assim, a primeira mentira – a dos 400 e poucos km quadrados alagados – encobre algumas outras mentiras: Mais de 1500 km² de área diretamente afetada, ou seja, alagada, rasgada, destruída, remexida, entulhada,… etc., dos quais mais de 600 km² a serem cobertos pela água das várias represas, e mais de 500 km quadrados de desmatamento! Estima-se que mais de 20 mil pessoas serão desalojadas pelo empreendimento, incluindo populações indígenas que vivem há centenas de anos nestas áreas. Lideranças locais, pesquisadores e técnicos envolvidos na discussão há anos consideram que o projeto representa uma ameaça concreta à sobrevivência física e cultural destes povos. Não queremos ter uma segunda Balbina e nos arrepender irremediavelmente.

Você contribuinte brasileiro, é quem pagaria, através de financiamentos do BNDES e da participação de estatais, por boa parte dos custos desta empreitada de conseqüências devastadoras. As empresas como Chesf, Eletronorte, Furnas e Eletrosul poderão entrar juntas ou isoladamente no leilão para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Resumindo, o povo brasileiro todo irá financiar o lucro imediato das empreiteiras e o lucro em longo prazo das empresas mineradoras, mas não receberá os benefícios, pois parte dos lucros será remetida ao exterior, e o restante estará concentrado na mão de poucos. De quebra, o povo brasileiro ainda arcará com os custos ambientais. Uma questão fundamental nesse enfrentamento é a possibilidade real que tem os movimentos sociais para fazer com que as informações e o conhecimento do projeto de Belo Monte sejam amplamente divulgados, e especialmente discutidas as suas conseqüências, isso poderá gerar um movimento tão expressivo que o governo se verá obrigado, em vez de atender os interesses dos grandes grupos econômicos e daqueles que pretendem lucrar muito com a construção da usina sejam então compelidos, a desistir desse projeto. E sem dúvida eu creio que o movimento tem meios e instrumentos para potencializar as suas lutas e finalmente fazer com que sua vontade soberana seja superior à vontade do governo e daqueles que de toda forma querem impor à região esse empreendimento, sem sequer obedecer aos ditares mais elementares da legislação, que estabelece a necessidade de estudos mais apurados e mais eficazes para um tipo de empreendimento como este.

Não!!! a reprodução e acumulação de lucros.Sugiro que façamos os maiores esforços possíveis contra esta catástrofe que se anuncia no triste Belo Monte

Ricardo Machado é Graduado em administração de empresas
Pós-graduado em Planejamento e gestão ambiental
E-mail: ricomachado@terra.com.br

Referencias.

Rachel Biderman Furriela – A LEI BRASILEIRA SOBRE ACESSO À INFORMAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO DEMOCRÁTICA DO MEIO AMBIENTE.
http://www.lead.org.br/filemanager/download/422/Artigo_Lei_Info_Ambiental.pdf

Callado C, (2000) A Importância da gestão dos custos ambientais
http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/belo-monte
http://www.orm.com.br/projetos/oliberal/interna/default.asp?modulo=247&codigo=439079
http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=333428

ISA – Instituto Socioambiental
http://www.socioambiental.org/website/index.cfm

http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4044/9/

http://amarnatureza.org.br/site/ahe-belo-monte-a-forca-do-mal,16939/


http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3692/57/

http://www.ecoeacao.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11309&Itemid=1

http://www.ana.gov.br/AcoesAdministrativas/CDOC/ProducaoAcademica/Marcos%20Airton%20de%20S.%20Freitas/An%E1lise%20de%20risco%20e%20incerteza.pdf

domingo, 22 de agosto de 2010

Manifesto

Clique na imagem e tenha uma bela surpresa.

respeito é Bom e eu gosto!
Aprendi que só podemos olhar para o outro de cima para baixo para ajudar a levantar-se.
Frase usada em presídios do RJ no início da década de 1980.
Prezados,
Sou um cidadão como outro qualquer, pai de 4 filhos, um com 30 anos, engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Rural do Rio de Janeiro que devido ao uso abusivo de drogas se tornou “doente mental” crônico, tendo sido internado para tratamento, recentemente, pela 14ª vez nos últimos 4 anos.
Infelizmente, minha família já não é uma exceção.
A compulsividade (vulgarmente conhecida como vício) toma conta de nossa sociedade como um todo, atingindo 60% da população brasileira (algo em torno de 110 milhões de brasileiros de todas as faixas etárias e classes sociais), direta ou indiretamente, segundo a OMS, drama esse que acompanhamos, perplexos e inertes, diariamente através da mídia.
Historicamente a sociedade tem optado por ignorar os Portadores de Distúrbios Psicossociais, seus Familiares e Afins, até porque os envolvidos, devido à cultura reinante há séculos, se colocam numa posição como se estivem em dívida com a sociedade, ficando sem vez e voz, retroalimentando um ciclo perverso que, cada vez mais, os "marginaliza".
As famílias, ao serem responsabilizadas pela sociedade, isolada e covardemente, se sentem envergonhadas / humilhadas, como se o fato de termos entre nossos integrantes um Portador de Distúrbio Psicossocial fosse um sinal inequívoco de fracasso.
Já o Portador de Distúrbio Psicossocial, em uma sociedade em que é necessário “ter para ser”, por culturalmente não ter reconhecida sua capacidade de produzir capital, não é!
Com a vergonha surge a impotência, com a impotência a ausência da denúncia e sem a denúncia o poder público acaba por priorizar outras questões, relegando ao ostracismo 60% da nossa população!

“Primeiro entraram em nosso jardim e roubaram uma flor.
Nós não dissemos nada.
Depois o mais frágil deles entra em nosso quintal e mata nosso cão.
Nós não dissemos nada.
Depois conhecendo nosso medo, roubaram a lua, e arrancaram-nos a voz da garganta.
E como não dissemos nada, não podemos dizer mais nada.”
Vladimir Maiakóvski

Diversas pesquisas apontam a gravidade da situação, algumas realizadas pelo próprio poder público.
Mesmo assim, somente promessas vagas são feitas.
Cansado de falar e não ser escutado, de tomar conhecimento de histórias similares a de minha família quase que diariamente nas mídias, de ver uma geração de brasileiros sendo aniquilada (hoje a média de idade do preso brasileiro é em torno de 22 anos enquanto que há 30 anos atrás era de 40 anos) e de presenciar distorções absurdas como, por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro o Hospital Penitenciário tem um serviço específico para compulsivos, com atendimento médico, terapêutico e fornecimento de remédios, mas não existem clínicas para tratamento de compulsivos e menos ainda uma política pública de prevenção a compulsividade, me engajei no movimento respeito é Bom e eu gosto.

Simplesmente não posso pensar pelos outros, nem para os outros, nem sem os outros.
Paulo Freire

Não queremos eleger nem algozes nem vítimas, mas somente exigir que os direitos dos Portadores de Distúrbios Psicossociais, Familiares e Afins, como cidadãos que somos, sejam respeitados, inclusive para que melhor possamos cumprir com nossas responsabilidades.

ser livre não é fazer o que se queira; é ser senhor de si, saber agir pela razão, praticando o dever.”
Émile Durkheim

Nosso objetivo imediato é construir uma base sólida de apoio com instituições, personalidades, mídias, etc. que tragam representatividade ao nosso movimento. Agradecemos desde já indicações e apoios.

“É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de comparar escrupulosamente nossos sonhos com nossa realidade.
Sonhos, acredite neles.”
Lenin


Abraço e felicidades a todos,

(21) 8796.0454

www.rebomeg.com.br

O conteúdo dessa correspondência pode ser reproduzido desde que não seja para fins políticos partidários, comerciais ou religiosos

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Mentira: A Arma da Vergonha

Em fim de julho, vi circulando em redes sociais um vídeo que flagrei como sendo um vídeo de propaganda mentiroso e de baixo calão que evidencia a truculência dos ruralistas, classe profissional que mantem a pressão e incentiva atos de violência, acalentando até a guerra civil, como se vê através dos comentários que acompanham essas imagens.

Logo, fiquei desconfiado pela falta de comentários contraditórios, bem como pela montagem nitidamente tendenciosa, e também, preocupado, quando vi comentários apelando à violência. Comecei a pesquisar os fatos e logo descobri as outras faces da história e, então, fiquei indignado de ver como se faz uso da mentira, da desinformação, do engano e da truculência para alavancar uma campanha eleitoral.

Já é um absurdo recorrer à violência para impor seu ponto de visto dentro de um Estado de Direito democrático. É um insulto e uma desmoralização das Instituições, particularmente do Judiciário, querer substituir-se à Lei, e mais ainda quando se pretende assumir um cargo público.

Mas senti revolta ao ver como se busca enganar os eleitores desta forma, como procuram subjugá-los através de falsas informações e do fascínio pela valentia e, o que é ainda pior, com a cobertura de deputados federais que fazem assim publicamente a apologia da violência, do desrespeito à Constituição brasileira e à Lei, apoiando quem pretende fazer justiça pelas próprias mãos.

As matérias da Gazeta do Povo esclarecem os fatos que são expostos de forma deturpada no vídeo mentiroso produzido como veículo de propaganda eleitoral pelo candidato Alessandro Meneghel e contando com os depoimentos favoráveis dos deputados federais Onyx Lorenzoni, e Eduardo Sciarra, autor desta frase: "Alessandro Meneghel é o cara que botou o MST para correr", em discurso de propaganda eleitoral [http://www.youtube.com/watch?v=PoL_-gwIOL4&feature=player_embedded#!].

1) Ruralistas montam bloqueio na BR-277 e entram em confronto com os sem-terra (01/12/2006)
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=618050&tit=Barreira-provoca-briga-generalizada
"Uma das brigas envolveu o presidente da SRO e um dos líderes regionais do MST, Keno de Oliveira, que levou um soco na testa."

Os relatos da matéria da Gazeta do Povo evidenciam a falsidade ideológica (e de fatos) do vídeo publicado no blog do jornalista Amorim, vídeo que foi divulgado em vários blogs de apoio à candidatura peessedemista, como esta frase, por exemplo:
"O presidente da Sociedade Rural do Oeste (SRO), Alessandro Meneghel, comandou os ruralistas que, de mãos dadas e portando pedaços de paus, fizeram uma barreira humana na rodovia."
Fato que é notável no próprio vídeo feito pelo candidato.

Cinco meses após a morte, em 21/10/2007, do Keno de Oliveira, aquele que trocou socos com o Meneghel no episódio de dezembro de 2006, mais um líder regional do MST foi assassinado.

2) Após morte de líder, MST reocupa fazenda (02/04/2008)
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=752806&tit=Apos-morte-de-lider-MST-reocupa-fazenda

"Foi a segunda morte registrada em cinco meses em conflitos agrários, após quatro anos sem o registro de homicídios motivados por questões agrárias no Paraná. Em 21 de outubro de 2007 o sem-terra Valmir Mota de Oliveira, de 42 anos, o Keno, morreu em conflito com seguranças da multinacional Syngenta, em Santa Tereza do Oeste."

Como é de costume, os 'poderosos' são sempre 'vítimas' de impunidade e, no caso, o governador Roberto Requião é amigo do pai do Alessandro Meneghel [http://www.jhoje.com.br/11062006/entrevista.php].

3) Confronto armado em área da Syngenta faz um ano sem nenhum preso (20/10/2008)
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=819731
"Beck disse que Meneghel não é acusado de homicídio porque não fez parte do confronto armado. “Ele está sendo acusado por formação de quadrilha e exercício arbitrário das próprias razões - ou fazer justiça com as próprias mãos”, diz."

Com base nestas informações, pode apreciar-se o vídeo inteiramente montado, com informações deturpadas, veiculado por jornalista inescrupuloso que, no mínimo, não verifica o que ele publica.

4) VÍDEO EXTRA! ACOSSADOS PELO MST, EMPRESÁRIOS RURAIS DO PARANÁ DEFENDEM PROPRIEDADE (26/07/2010)
http://aluizioamorim.blogspot.com/2010/07/video-extra-acossados-pelo-mst.html

Eloquente de ler, naquele blog, as palavras de ódio e de incentivo à violência dos comentários que são o reflexo da força incentivadora do tal vídeo onde aparecem dois deputados federais dando apoio e acobertando tais mentiras e imundícias, em total falta para com o decoro que lhes cabe.

O que é interessante, afinal, é de poder observar como a "mentira tem pernas curtas", como diz o ditado, e também como podemos, embora as muitas críticas, confiar na nossa Justiça, pois o cidadão Meneghel, apesar de pretender investir até R$ 2,5 milhões na sua campanha eleitoral, e justamente por isso, encontra-se com a candidatura impugnada pelo TRE-PR, como consta na matéria relacionada abaixo.

5) Candidato do DEM é o 2º barrado pela ficha limpa no PR (04/08/2010)

http://www.gazetadopovo.com.br/votoconsciente/conteudo.phtml?tl=1&id=1032231&tit=Candidato-do-DEM-e-o-2-barrado-pela-ficha-limpa-no-PR
"De acordo com o TRE-PR, a causa de inelegibilidade se deve a prática de crime contra a administração pública, que esbarra na Lei complementar 135/2010, chamada de Lei da Ficha Limpa. Meneguel é agricultor e tem 45 anos."

Evidentemente, o candidato argumenta contra a sanção e diz que irá recorrer, mas, no próprio site de campanha, não nega a acusação, apenas contesta o "efeito retroativo da lei" como inconstitucional...

Não é do meu costume de fazer esse tipo de investigações, mas tem horas em que a revolta fala mais alto diante de tanta licenciosidade e acho ser um dever de cidadão, em qualquer situação e mais ainda em época eleitoral, de expressar seu repúdio às práticas indecentes que mancham e desacreditam a imagem de todos os políticos brasileiros.

por Lucas Matheron (www.lucas-traduction.trd.br)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cidade in Foco

Nesta época de campanhas eleitorais nós, cidadãos eleitores, ouvimos os sempiternos discursos apaziguadores nos prometendo sempre as mesmas mudanças, o mesmo futuro melhor.
Neste fim de semana, indo comprar meu pãozinho, deparei-me com um mendigo-morador de rua (sei lá) sentado na porta da padaria. Era um moço jovem, que certamente poderia prestar muitos serviços na cidade e que sua condição de pedinte nem permite. E está imagem trouxe a tona muitas outras imagens do gênero, desde os lançadores de limões, aprendizes de malabaristas, até os "estacionadores" e os "recicladores", entre outras formas disfarçadas de mendigagem.
Pense global, aja local!
Em junho de 1992, esta frase simbolizou a Cúpula das Nações reunida no Rio, apontando para a Agenda 21, uma bíblia para quem a leu, uma ameaça para os governantes, um documento inútil para a maioria que nem sabe do que trata.
No entanto, esta frase simples significa que, embora a questão da pobreza seja um problema mundial, a sua solução deve ser buscada localmente, cada realidade sendo uma, com suas características, suas especificidades e suas possíveis respostas.

Portanto devemos encontrar soluções locais aos problemas locais e o que cabe aos governantes nacionais e estaduais deve ser muito relativizado, salientando assim o necessário desprendimento do paternalismo surrado que faz com que os eleitores achem que elegendo fulano ou beltrano "seus problemas acabarão", por um lado, e, por outro lado, da velha demagogia que faz com que os políticos caiam sempre na armadilha do populismo e das promessas vazias de sentido.

Pense global e aja local!
O que poderia fazer por esse coitado pedindo esmola na porta da padaria? Dê-lhe cinquenta centavos...
É tão vergonhoso dar quanto pedir!
E é vergonhoso porque você sabe que não está resolvendo nada desta forma e que, talvez, até esteja dando-se boa consciência por 'ter ajudado'. Não está resolvendo nada porque, no dia seguinte, o moço terá de pedir de novo, e assim também os dias seguintes, porque quando se chega a certo grau de desumanidade, ou melhor, de de-cidadania, não há quantia que resolva porque a coisa mais difícil para ele conquistar ou reconquistar é a confiança na sociedade e no mundo em que está inserido, e isso não se compra.
E como a sociedade poderia lhe proporcionar esta confiança sendo excludente e desumana?
Não são belas palavras de políticos que vão confortar aquele que se encontra sem nada, e tampouco umas moedas que custam a dignidade de quem as pede. Será que a dignidade humana tem tão pouco valor?
Pense global e aja local!
Mas o que estão fazendo os nossos vereadores, o nosso prefeito, em suma, a administração pública? só passeando a custa dos nossos impostos e das verbas do governo?
Certo, acho que a sociedade como um todo deve encarar a questão da pobreza por se tratar de um problema social. Começa, a meu ver, cada um fazendo alguma coisa, a começar tendo, apenas, uma atitude diferente, um olhar diferente, incorporando que o bem estar de alguns não deva ocultar a miséria de outros. Mas os vereadores e a administração municipal são os nossos representantes e é deles que devem partir as iniciativas, inclusive a de envolver a sociedade. Todos adeririam, mas cadê uma proposta real, concreta, arrojada, pois não adianta pensar que band-aid resolve!
Estamos pagando muito caro os préstimos desses representantes que não apresentam propostas para resolver os problemas da cidade. Será que nossos impostos estão servindo devidamente os nossos interesses?
Ao invés disso, as propostas apontam a institucionalização da mendigagem através da 'regularização' desses 'trabalhadores informais' como li recentemente. Ora, vai legalizar o inconcebível?
Isso é dar manutenção ao problema da falta de educação e da marginalização social!
Precisa fazer alguma coisa para essas pessoas? Precisa! Mas não façam qualquer coisa que seja do tipo 'de fachada', tipo 'remendo', tipo 'jogar prá frente'. Precisa solucionar de fato, precisa sustentabilidade, precisa de um projeto duradouro aos problemas de mendigagem e de violência que assolam a cidade, dois problemas intimamente ligados.
Não é muito, o que precisa para quem não tem nada. A primeira é reconhecimento, a segunda, confiança, e a terceira é consideração. O resto, a educação faz.
Não carecemos de assistentes sociais e de educadores, todos querendo praticar o ofício pelo qual optaram e se formaram. Os espaços físicos custam menos que uma campanha eleitoral e duram mais tempo!
O que falta é vontade!... ou talvez coragem de ousar uma política social includente.
Mas, para viver verdadeiramente bem, precisamos resolver e sanar os problemas sociais que acometem a sociedade e a cidade, e precisamos do empenho dos gestores públicos que elegemos, muito antes do que elegermos outros.

por Leila Tebet

domingo, 8 de agosto de 2010

O Homem da Bengala


Em homenagem ao Yves Hublet, falecido em 26/07/2010, aos 72 anos, em circunstâncias aparentemente suspeitas[i], escritor e teatrólogo que se tornou conhecido nacionalmente como 'O Homem da Bengala' devido ao episódio com o ex-ministro José Dirceu, queremos publicar novamente o texto por ele escrito às vésperas das eleições de 2006[ii] que nada envelheceu 4 anos depois.
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Em 1894, o oficial francês de origem judaica, Alfred Dreyfus, acusado de espionagem a favor da Alemanha, foi julgado, condenado e deportado. O escritor famoso, Émile Zola, sensibilizou-se com o flagrante do anti-semitismo e a enorme injustiça que se perpetrara contra aquele oficial e escreveu uma carta endereçada ao Presidente da República da França com o título: J´Accuse! (Eu acuso!).

Seu ato mobilizou a opinião pública que exigiu a reconsideração do caso. Dreyfus foi julgado novamente, inocentado e reintegrado. Essa carta e expressão “J´accuse!” passou a ser um símbolo da busca pela Justiça e pela Verdade.

Longe de querer igualar a força e a beleza daquela peça literária, ousarei aqui apenas emprestar o modelo de libelo contra a Vergonha e a Corrupção que avassalam o meu país : o Brasil.

NOTA: Permitimo-nos algumas alterações ao texto original, seja para atualizá-lo, seja para enxugá-lo de detalhes, desnecessários em 2010.

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Eu acuso!...
Os partidos políticos de oposição, notadamente o PSDB e o PFL [hoje DEM] de OMISSOS na busca da Justiça, postergando um pedido de ‘impeachment’ do atual presidente da República – Luis Inácio Lula da Silva - quando, por muito menos acusações, defenestrou-se outro presidente: Fernando Collor de Mello. Disseram os líderes dos partidos, que preferiam tirar Lula através do voto, na eleição de 2006.
Ou tratou-se de um enorme e estúpido erro de avaliação (o que não acredito, visto tratarem-se de "velhas raposas" da política) ou de mais um caso vergonhoso de conivência e conveniência com o estado de podridão institucional perpetrado pelo Partido dos Trabalhadores – PT.
Após ler os argumentos que estes líderes vêm apresentando à Nação, concluo tratar-se mesmo do velho argumento “toma lá, dá cá”, e por terem “o rabo preso”, usando um linguajar popularesco. Pratica-se assim, mais um desserviço à Pátria, pois, senhores políticos, a profilaxia é, não apenas desejável, mas imperiosa, quando um mau maior é detectado num organismo sadio.
No caso em pauta, considero o “governo Lula” como um câncer a corromper e infectar todo o corpo saudável da Nação brasileira.
Este é o perfil em que se encontra hoje o Estado brasileiro: lasso, inerte, indefeso à sanha inescrupulosa da quadrilha em que se transformou (já há vários anos) o Partido dos Trabalhadores-PT.

Eu acuso!...
A OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – entidade que congrega a elite jurídica da Nação, de OMISSÃO. Abrigando em seus quadros vários ex-Ministros da Justiça e de Tribunais Superiores, a OAB tinha a obrigação de acompanhar as averiguações das graves denúncias feitas, desde o início do ano passado, por membros atuantes do legislativo, bem como o desenvolvimento das várias CPIs. E, o que ainda é mais grave, não ter dado, em meados de 2006, ocasião propícia para a derrubada do líder maior do PT, o devido acolhimento e prosseguimento ao pedido de impeachment, feito pela Conselheira Dra. Elenice Carille[iii]. Os “estudos” se estenderam até os dias de hoje, incluindo as festas de Natal, Ano Novo, Carnaval, Copa do Mundo, etc., porque ninguém é de ferro! Quem sabe a OAB entre com o pedido de impeachment do Lula às vésperas das eleições, momento completamente inadequado, pois será apresentado ao povo como uma postura oportunista e eleitoreira das elites visando a derrubada do “Grande Líder”.

Eu acuso!...
A CNBB – Comissão Nacional dos Bispos do Brasil –de OMISSÃO. Estes bispos da Igreja Católica Apostólica Romana, quase sempre tão atentos e rígidos no estabelecer e aplicar regras e ordenamentos severos na observância de leis terrenas, canônicas e até das divinas, deixaram escapar a ocasião de, pelo menos, criticar seus fiéis, quando se embrenharem pelas vias tortuosas e abjetas da corrupção.
Isso, sistematicamente, acontecendo já há vários anos, dentro do PT, que a CNBB, não só ajudou a crescer (talvez na tentativa de recriação tropical do SOLIDARIEDADE polonês, menina-dos-olhos do então papa João Paulo II), como estimulou os fiéis a votarem nele.
Alguns ex-amigos do atual presidente – o frei Betto, por exemplo – até escreveram livros após o desencanto com os escândalos do Mensalão, etc., e se desvencilharam dos seus cargos dentro do governo. No seu livro “A Mosca Azul”, o frei dominicano reflete e partilha suas observações de ex-assessor especial do presidente da República e coordenador da mobilização social do programa “Fome Zero”. Ele tenta entender, à luz de vários filósofos antigos e modernos, as condições e fatores que operam mudanças substanciais nos corações e mentes de governantes mal preparados para exercerem o poder. E completa, nas páginas do seu livro:
Um corrupto é o resultado de pequenas infidelidades. Ele não se faz senão através de detalhes que se lhe acumulam na alma: levar vantagem num negócio, apropriar-se de um bem aparentemente insignificante e trair a confiança alheia. Não é o dinheiro que destrói a sua moral. É a ganância, a arrogância, a convicção de que é mais esperto que os demais.

Eu acuso!...
A ABI – Associação Brasileira de Imprensa – que, nos seus áureos tempos de atuação, sob a direção hercúlea do insigne jornalista e político Barbosa Lima Sobrinho, combateu os desmandos da ditadura, também de OMISSÃO.
Em nenhum momento a ABI, como entidade, se manifestou contrária aos desmandos e falcatruas com os quais os dirigentes petistas, sob o comando do seu “Líder Maior”, envolveram a nação brasileira. Enquanto se mantinha alheia e acima deste verdadeiro lodaçal infecto e nauseabundo, muitos jornalistas se incorporavam de corpo, alma e inspiração, às hostes governistas, ora endeusando seus dirigentes, ora denegrindo a honra de seus detratores.
Assim, estes jornalistas, tendo em suas sujas mãos o poder que lhes confere a mídia, escrita e televisiva, não só procuraram minimizar as mais palpáveis acusações de crimes como, num claro conluio para acobertar atividades nefastas de ministros, até ajudaram a disseminar acusações e suspeitas sobre personagens de origem tão humilde quanto a do atual “Líder Maior”.
Alguns o fizeram, convictos da justeza de seus ideais sócio-políticos, defendidos nos tempos de chumbo da ditadura. A estes, aguarda a comiseração e o entendimento da posteridade. Mas, para a grande maioria que vendeu seu saber e técnica ao governo para manter seu status quo, sem sequer atentar para a profundidade do poço em que se debruçava a Nação brasileira, a estes aguarda o opróbrio, a infâmia e a repulsa dos seus pósteros.
A bem da verdade, necessário se faz enaltecer a parte sadia da Imprensa brasileira, defendida por jornalistas que, à imagem de Dom Quixote, investiram suas penas contra os moinhos da prepotência governamental através das suas posturas heróicas, foram afastados de suas posições de liderança apenas por exercitarem o livre arbítrio tão importante no exercício da profissão de jornalista. As empresas que os despediram, mesmo com a desculpa de que teriam sofrido represálias econômicas da parte do governo (exatamente como se comportava a ditadura), estão condenadas ao limbo que acolhe os covardes e coniventes.

Eu acuso!...
A ABL – Academia Brasileira de Letras – por sua ALIENAÇÃO e OMISSÃO frente aos acontecimentos que cobrem de vergonha a Nação brasileira. Abrigados sob a égide da Casa de Machado de Assis, o que deveria ser a nata da intelectualidade no âmbito do beletrismo, os acadêmicos acomodaram-se, confortavelmente instalados nas poltronas macias dos vetustos salões e aquecidos pelas chávenas, servidas, britanicamente, às 17 horas. Saciados em seus apetites gastronômicos e em suas vaidades, desfilam pelos corredores envergando seus verdes fardões engalanados de comendas, e esquecem que, aqui fora, estão seus compatriotas. Famélicos, alguns, rotos e esfarrapados outros, todos indignados e atônitos, uma grande e expressiva parte da sociedade brasileira.
Talvez por terem em seus quadros ex-presidentes da República e atuais senadores em exercício, travestidos de poetas e escritores, se preservem de desagradáveis ilações sobre uma política sórdida e um governo pérfido, podre e incompetente.

Eu acuso!...
A SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - de ALIENAÇÃO e OMISSÃO a respeito dos gravíssimos acontecimentos, alguns perpetrados pelo governo do PT, que enxovalham e amesquinham o Congresso, achincalham e dilaceram as instituições, aviltam e destroem a Ética.
Onde estão os cientistas? Onde estão os sociólogos? Onde estão os filósofos?
A única voz que ainda se ouve é a da filósofa – Marilene Chauí – uma das ideólogas marxistas do Partido dos Trabalhadores. Em entrevista ao jornal Brasil de Fato (edição nº 143/2005)[iv], ela diz, em resposta à pergunta:
– Se este governo [do PT] não é de esquerda e ainda por cima, agrada às elites, por que vêm com essa ofensiva para cima dele [Lula]?
Resposta: - “Ah, mas não são as elites. É o PSDB e o PFL. É uma questão eleitoral.”
–“Mas eles são as elites”.
Resposta: - “Não dêem grandeza política, nem histórica a esta crise. Esta crise é a antecipação da disputa eleitoral. Ponto. Parágrafo. É disso que se trata. O Serra quer ser presidente da República.”
Em outro informativo, este do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, de 29/12/2005 retiramos um texto publicado na revista Caros Amigos (11/2005), onde a filósofa analisa:
-"Houve a invenção midiática da crise sob a regência dos partidos de oposição na tentativa de um golpe branco. (...) Não se trata de recusar nenhum deles, mas a crise... ela foi criada num momento que alguns julgaram interessante inventá-la. Um produto midiático que avassalou a sociedade inteira."
É assim que a filósofa Marilene Chauí interpreta a catadupa de corrupção, ignomínia e canalhice que nos agride e envergonha:..."um produto midiático..." ou seja: "inventado" pela mídia – a das elites, é claro!
A tudo isso, os cientistas das áreas de Humanas assistiram, quase impassíveis, impenetráveis em suas couraças acadêmicas. E outros, das áreas de Exatas, até aplaudiram e exaltaram a plantação “espacial” de feijão, como o grande feito científico deste início de século. Salvo honrosas exceções!

Eu acuso!...
A UNE – União Nacional de Estudantes de CÚMPLICES desta verdadeira subversão de valores que se pratica contra o Estado brasileiro. Esta entidade, representando a classe que, outrora, lutou contra a ditadura, pela volta da Democracia e restauração da Liberdade, hoje se prostituiu e se aninha sob os tentáculos imorais do governo federal, recebendo benesses jamais sonhadas, vendeu-se em troca de um “prato de lentilhas”, na expressão bíblica.
De uma agremiação atuante, no campo das liberdades individuais e coletivas, tornou-se participante e conivente com um governo venal – e até mesmo terrorista – posto que usuário das mesmas práticas e arbitrariedades que se usou nas cinzas dos tempos da ditadura militar.

E, finalmente...

Eu acuso!...
O Povo Brasileiro de ASSISTIR, passivo, inerte, estático, apático e, até, resignado, o desenrolar do cipoal de acusações fundamentadas de corrupção e várias outras modalidades de crime, que a Imprensa – livre de peias –, o Ministério Público e até alguns parlamentares dignos vêm fazendo contra o governo federal, representado pelo presidente da República, senhor Luis Inácio "LULA" da Silva, do Partido dos Trabalhadores – PT.
Acusações de tal modo graves, que levaram o digníssimo Procurador Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, a declarar que “uma verdadeira quadrilha” se abrigou sob o guarda-chuva protetor do governo petista.
Várias – e algumas até defensáveis – são as desculpas para justificar esse estado de inércia que acometeu a sociedade brasileira, frente ao oceano de matéria putrefata produzida por esse governo infame.
Verdadeiras ou não, o certo é que poucas foram as atitudes civilistas de que se pode orgulhar naquele ano de 2005, que marcará a História pátria:
- o protesto, quase solitário, da “vovó radical”, a senhora Maria de Lourdes Negreiros (76 anos), aos brados de FORA LULA numa manifestação contra a presença do presidente em Fortaleza;
- a do Tenente-Brigadeiro Ivan Frota, presidente do Clube de Aeronáutica do Rio de Janeiro, que cancelou um convite já feito ao vice-presidente e Ministro da Defesa José Alencar, por ter este apoiado o deputado José Dirceu, recém cassado por atos atentatórios à dignidade dos cidadãos honrados;
- a da alagoana de 80 anos, cujo nome é desconhecido por ela estar sob proteção da Justiça, ex-empregada doméstica aposentada que filmou, na Ladeira dos Tabajaras-RJ, às suas próprias custas e riscos, cenas de parceria PM/traficantes, que resultaram na prisão de vários facínoras, inclusive PMs;
- a do deputado-federal Fernando Gabeira, do Partido Verde (PV-RJ) que, da tribuna da Câmara afrontou, com palavras duras, o nefasto e corrupto presidente da Casa Legislativa, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que acabou renunciando.

Claro está que a responsabilidade cívica dos cidadãos deve ser considerada a partir da premissa de que, aos mais instruídos e informados caberá um grau maior.

Espero e confio que nos meses dramáticos que se avizinham, onde certamente se delinearão os horizontes de um novo porvir, os envolvidos neste libelo acusatório possam refletir, superar as inibições e se posicionar, contribuindo com o fortalecimento das instituições e com o restabelecimento da Ética e Decoro, em defesa da Honra, da Dignidade e da Democracia.

Pois, como nos ensinou o impoluto patriota Rui Barbosa:

“A Pátria não é ninguém; são todos...”.

sábado, 7 de agosto de 2010

Malditos sejam os ignorantes


O ignorante pode causar danos maiores do que um criminoso. O criminoso não diz que seu gesto é correto, ele não se afirma como modelo de moralidade e civilidade, ele simplesmente comete o crime e sabe que está sujeito às penas da lei e à força da Justiça. Talvez o ignorante não cometa crimes, mas tem o physique du rôle para cometer atrocidades muito maiores do que aquelas que ele mesmo repudia. Ele comete erros e aposta na própria retidão. Ele desrespeita as leis e vê nisso um modelo a ser seguido. Ele acha que ordem é falta de liberdade e, por isso, se acha oprimido. É o ignorante que afaga a cabeça do criminoso quando este está sendo justamente cobrado por seus atos. Se encararmos cada pessoa como um exemplo de conduta, não é difícil perceber que o lugar do ignorante é no fim da lista. Ele comete erros com a firme convicção de que está agindo certo e fazendo um bem para a sociedade, quando a realidade é exatamente o contrário disso.
Alguns exemplos podem deixar as coisas mais claras.
Há pessoas que levam cachorros à praia e que ignoram a lei que proíbe isso. Elas ignoram o fato de que cachorros na praia podem causar problemas e que, portanto, leis são uma resposta a questões sociais importantes. O ignorante acha que, como seu cachorro é educado e vacinado, a lei não serve para ele. Ele se acha com razão em levar o bicho à praia. E leva. Ele não se limita a desrespeitar a lei; ele desrespeita também aqueles que tentam orientá-lo ou exigir-lhe o cumprimento da lei. Se você já tentou se comunicar com um sujeito desses, sabe do que estou falando. Um maçarico é mais respeitável e educado do que ele.
Também é comum aquele tipo de ignorante que acredita que o mundo é o seu filme. Ele liga o som do carro no volume máximo ou dá festas às 3 horas da manhã — e acha mesmo que todos preferem festejar a dormir a essa hora. O ignorante realmente acredita que vai conquistar mulheres se tiver bazookas e subwoofers funcionando a carga plena em seu carro. E é uma coincidência irritante o fato de nenhum desses imbecis ser capaz de ouvir música decente; você nunca vê um sujeito desses ouvir Mozart, Pixinguinha ou Benny Goodman. Só se ouve lixo, como se o prazer estivesse não na música alta, mas em contaminar os ouvidos alheios. O mesmo raciocínio vale para muitos motoqueiros, churrasqueiros, botequeiros e os eternos candidatos a algum cargo político — todas as pessoas que adoram música ruim e alta, que falam berrando e que ignoram o valor da quietude e da discrição.
Há também o ignorante do trânsito. Ele esquece que está numa via pública e que, portanto, ruas, calçadas e ciclovia não lhe pertencem exclusivamente. Quando dirige um carro ou um caminhão, esse sujeito não vê motivos para andar dentro do limite de velocidade. Se ele estiver de moto, além de ignorar o limite de velocidade, ele acredita ser o super-homem cruzando o céu de Metrópolis. Quando pedala, ele não acredita que as leis de trânsito lhe sirvam; para ele, contramão é algo que só diz respeito aos carros. E quando caminha, não vê qualquer problema em passear pela ciclovia ou pela rua, disputando com carros, caminhões, motos e bicicletas um espaço que ele acha que é dele. Nesses casos, independentemente de como o ignorante se desloca, ele sempre acreditará estar certo e o outro, errado. Ele simplesmente não vê motivos para agir de outra forma. Pensar raramente está em seus planos.
E eu nem falei de filas de banco, da arte das construções irregulares e da paixão pelo descarte irracional de lixo — outros grandes momentos da ignorância insular.
O leitor já deve ter notado que a ignorância a que me refiro não tem nada a ver com tempo de estudo. Pessoas que estudaram pouco apenas não têm conhecimento, mas raramente são ignorantes; elas não ignoram aquilo que não sabem, elas não recusam o conhecimento e, mais importante, elas não se apegam à própria miséria intelectual. O tipo mais abominável de ignorante é aquele que acha que sabe alguma coisa e que se orgulha da própria ignorância. É esse o tipo de pessoa que leva cachorros à praia, que caminha na ciclovia, que dirige a 80km/h, que dá festas de madrugada e que se orgulha dessas coisas tanto quanto a criança que esfrega caca na parede e sorri para a mamãe esperando beijos, abraços e aplausos.
É uma dura realidade. Para cada ignorante arruinando as poucas coisas boas que ainda existem nesta cidade há uma dezena de tolerantes patrocinando e aplaudindo essas criaturas. Assim fica difícil.


terça-feira, 3 de agosto de 2010

No começo era um jardim...


Assim começa a história do nosso planeta. Muito antes do homem aparecer na face da terra, o planeta já era um lindo jardim.
Lindo?
Certamente, na mesma medida que achamos a natureza linda, a tal ponto de ter conseguido transformar inúmeros locais naturais em atrativos turísticos para poder vendê-los, apenas para visitação...
Um dia, o homem apareceu nesse jardim.
Certamente a vida era diferente naquela época, provavelmente semelhante à vida dos animais, lutando diariamente pela sobrevivência. Mas sobreviveu, se multiplicou e, pela sua capacidade intelectual ímpar, constituiu-se em sociedades.
A vida em sociedade implica em interações, em cooperações, como acontece na natureza em todo ecossistema, e poderíamos comparar uma sociedade com um ecossistema onde ocorre uma teia de interações que levam à evolução ou, pelo menos, à continuidade do sistema coletivo.

Mas, pela mesma capacidade intelectual ímpar, desenvolveram-se também outros sentimentos do que a cooperação, desenvolveu-se a dominação.
Seja por cobiça, inveja ou incompetência, a coerção passou a ser a forma de dominação e o caminho da liderança. Com ela, nasceu o medo, mas também nasceu a vingança. Assim sendo, o cenário social oscilava entre dominações temporárias e vinganças pontuais.

O desenvolvimento da humanidade acompanhou-se do desenvolvimento do seu intelecto e, certa vez, o ser humano inventou uma alternativa à dominação física: a dominação espiritual.
Mas a dominação tinha de ser construída sobre o mesmo sentimento: o medo.

Numa manifestação ímpar da sua capacidade intelectual, inventou um deus ao qual haveria de obedecer a risca. Criaram-se estórias extremamente sugestivas, dignas dos melhores enredos, uma das quais o episódio da maçã, simbolizando o nascimento da humanidade, impondo-lhe regras, obrigações, temores...
Assim sendo, inventaram a primeira lei: a censura, tendo como corolário a exclusão!

por Lucas Matheron (http://www.lucas-traduction.trd.br/)

domingo, 1 de agosto de 2010

Edgar Morin - Os 7 Saberes


O conceito filosófico do "Pensamento complexo" fundamenta-se na necessária interdisciplinaridade do raciocínio e da reflexão na nossa contemporaneidade.
Tal como todo ser vivo, desde um ecossistema até um ser humano, o mundo é composto de um... sem número de conponentes "tecidos entre si em um emaranhado de entrelaçamentos".
Uma das grandes conquistas do pensamento complexo é a capacidade de lidar com a associação de duas noções antagônicas, competência necessária no mundo contemporâneo.
Esse texto foi escrito para a UNESCO em 1999. Em 7 capítulos Morin delinea as interações que norteiam o Pensamento complexo que ele considera indispensável à compreensão do mundo e a sua evolução.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um novo mercado para venda de armas?


O comunicado do Departamento de Estado dos EUA chamando a "levar a sério" as denúncias da Colômbia sobre a presença de guerrilheiros colombianos na Venezuela soa como uma ameaça a paz no continente.
De fato, dentro do contexto atual, esse ato de 'meter o bico' é, no mínimo, provocativo, se não ingerência. E esse intrometimento dos EUA é muito oportuno às vésperas das eleições presidenciais brasileiras nas quais está parecendo se confirmar a continuação do governo de esquerda, ou seja, do PT, mas sem Lula.
Muito oportuno em um momento em que o atual presidente Uribe está deixando o lugar para o Juan Manuel Santos que, coincidentemente, convidou o Hugo Chavez na sua cerimônia de posse, tentando, talvez, marcar um relaxamento nas relações Colombo - venezuelanas e uma abertura à reaproximação dos dois países[1].
E se esse gesto de reaproximação escondesse um afastamento da política de Washington com relação ao subcontinente e o possível 'fechamento' das bases estadunidenses no território colombiano?
É estranho porque Uribe, que trabalhou durante anos a minar as relações com o vizinho Chavez, está a duas semanas de deixar o cargo e, justo agora, vem implicar com um assunto cujos dados estão conhecidos dele já faz tempo e em um momento em que as próprias FARC estão perdendo forças. Além disso, o corte das relações comerciais pela Venezuela fez cair as exportações da Colômbia em mais de 70%, provocando a perda de milhares de empregos no país. Por outra parte, Uribe está deixando uma situação caótica relativamente aos para-militares que são apontados como responsáveis pela morte de milhares de pessoas, dentre as quais muitas crianças [2].
Relacionando com o Brasil, acontece que o chilique do Uribe, apoiado descaradamente pelos EUA, surge em um momento em que o PT está a caminho de vencer mais uma vez as eleições em outubro próximo, mas, desta vez, com outra figura que o Lula. Lembraremos que Lula tinha se comprometido a manter os fundamentos da estabilidade econômica durante a campanha de 2002 para consolidar sua candidatura frente a um PSBD enfraquecido pelo estado de crise em que se encontrava o país [3].
Estamos diante da mesma incógnita que na campanha do PT de 2002: não se sabe qual será a influência da franja mais radical do PT sobre o próximo governo petista e a imagem da candidata Dilma não convence tanto quanto o carisma do então candidato Lula. E daí a campanha construída em torno da Dilma e da sua relação à luta armada durante a ditadura militar, bem como a associação do PT com as FARC colombianas, denúncias que vem a tona justamente ao mesmo tempo em que o Uribe lança seu ataque ao Chavez.
E o círculo se completa!
Os EUA se usam da sua influência, através do Uribe e provavelmente de articulações políticas também no Brasil, para desafiar o Chavez e tentar o golpe de desestabilização política no subcontinente, mesmo que seja através de um conflito armado.
Afinal, o que é importante para o irmão do norte é reconquista da sua influência na América latina, que está cada vez mais enfraquecida, inclusive com a recente criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) [4] como alternativa declarada à OEA, há tempo desacreditada junto aos novos governos do continente. Justamente, a não-inclusão dos EUA (nem Canadá), assinala a vontade de distanciamento do bloco sul-americano sob a impulsão dos governos a tendência esquerdista da Venezuela e do Brasil pelos mais influentes.
No início de julho, a Secretária de Estado Hillary Clinton já tinha lançado, em discurso, uma ameaça disfarçada, denunciando o “perigo à democracia” na Venezuela (em associação à China e Rússia) enquanto ocorria uma reunião da CELAC em Caracas [5].

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Caminhando para o futuro



A idéia de solidariedade é uma linda idéia. Pode até parecer obsoleta, mas é uma relação essencial da vida. A noção de solidariedade espaço-temporal leva à tomar consciência da interdependência existente entre os seres vivos e do frágil equilíbrio do qual resulta a vida na Terra. Esta inter-relação é espontaneamente presente no "pensamento selvagem" enquanto nós desenvolvemos, nas nossas sociedades, um sistema de raciocínio dicotômico que faz com que temos uma visão apenas utilitária da Natureza.
O grande negócio da nossa época é a tecnologia. Não passa um dia sem que se fale em algum avanço tecnológico que seja uma promessa para o futuro. Alias se fala sempre do futuro quando se trata do nosso bem, para escaparmos de um presente doloroso que logo seria entregue ao passado. Mas essa falácia gramatical não impede uma perda muito grande dos nossos valores humanos, e jamais, na História, o Ser humano esteve tão distante da Natureza à qual pertence. Ao lado do progresso tecnológico, os conhecimentos tradicionais, colhidos por comunidades de indivíduos nas suas relações com a Natureza, estão se perdendo, e milhares de espécies, algumas das quais nem temos conhecimento, estão desaparecendo dia após dia.
Em paralelo, essa decomposição das nossas relações com a Natureza nos leva ao desprezo pelo trabalho manual; trabalho que desde a noite dos tempos nos permite nos alimentarmos e construir nossas moradias, trabalhos mais essenciais dentre quaisquer outros.
No entanto, é a partir desta idéia de solidariedade que nasce a idéia de desenvolvimento sustentável que junta a solidariedade geográfica (ajuda entre os indivíduos) e a solidariedade temporal (consideração das gerações futuras).
Encontramo-nos, hoje, numa encruzilhada.
O Ser humano encontra-se, claramente, a serviço da economia enquanto o bom senso sugere o contrário. A Natureza não é mais considerada como componente da vida, mas sim subordinada à Humanidade e até dependente dela, pois tem de protegê-la das nossas agressões diárias. O trabalho é desprezado diante do "conhecimento" e nossa atenção voltada para as promessas tecnológicas, bem como os conhecimentos tradicionais diante do conhecimento científico.
Essa constatação nos leva a nos perguntarmos sobre quais soluções para conter uma ciência que nos faz negar a Natureza?
E se devemos ficar otimistas diante de uma noção tão angustiante quanto é o desenvolvimento sustentável (por não termos preparo para tanto), cabe-nos tomar consciência da necessidade de sairmos de um sistema que nem nos permite enxergar o essencial: simplesmente que a Natureza é a vida.


Compilação a partir do blog Alter Eco de comércio solidário

domingo, 18 de julho de 2010

Olavo de Carvalho - Brasil e Brasileiros

"Somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa do que o ato de conhecer."

sábado, 17 de julho de 2010

Eu não acredito no Brasil

A política está desacreditada no Brasil: uma triste realidade, inegável. E pelo fato de ser, da mesma forma, desacreditada no mundo inteiro (salvo algumas poucas exceções, talvez) é para se perguntar se, de fato, o Sistema político, chamado por alguns de "democracia", não é a própria causa do fracasso.Pois, fato também inegável, a maioria daqueles que ocupam o Congresso brasileiro são bandidos!! Mesmo se todos não tem 'ficha suja', no mínimo são 'candidatos a', pelas conivências, pelas alianças escusas, pelos 'rabos presos', em algum momento das suas vidas políticas.E como haveria de ser diferente na herança duvidosa de um sistema político fundamentado no oligarquismo, no clientelismo e na corrupção, que poluiu as mentes durante 21 anos: uma geração inteira!

Interessante é de se perguntar, também, do por que foram eleitos. A resposta é simples, e óbvia: porque foram candidatos! E que só havia opção entre uns candidatos já bandidos e outros duvidosos, resultado do sistema anterior, fundador da consciência política contemporânea, atual.Esse quadro, potencializado no Brasil pela ditadura militar, se observa em outros países, até nas tradicionais 'democracias' tomadas como exemplos nos quais se costuma espelhar-se. Mas, lá também, o espelho está embaçado e a democracia é tão ilusória quanto aqui, embora compensada pelo engajamento político individual que faz as pessoas irem às ruas protestar quando o vaso transborda.

Mas por que será que as pessoas "de bem" não se candidatam?Justamente por desacreditarem...Mas será que há alguma coisa em acreditar, ou esperar, dentro de um sistema tão falho quanto esse sistema globalizado da corrupção, da bandidagem e da absolvição predeterminada?Por outra parte, é muito difícil, quando não impossível, sair um candidato que não compactue com o 'establishment', que não faça parte de um partido político, que não entre no sistema que faz eleger alguém 'pela legenda'!!!O sistema é mesmo anti-democrático, não há dúvida. Na realidade, estamos a mercê de um sistema nada democrático em que nada nos leva a acreditar nele. Estamos vivendo em um sistema no qual reina a ditadura das minorias!

Vivemos com medo sob a pressão de uma minoria de bandidos cuja violência nos tranca dentro de casa após as 19 horas, e a polícia, que deveria proteger o cidadão, está sendo reduzida em efetivos a medida que a população (global e marginal) aumenta, por decisão dos nossos administradores, enquanto nossos legisladores buscam beneficiar a população carceral (com férias, bolsa bandido, e outras 'regalias' exóticas), isso quando o nosso judiciário não os liberta, simplesmente.


Vivemos espremidos sob uma carga tributária que nos é imposta por uma minoria de políticos que desviam esses recursos públicos em benefício próprio. Acreditaríamos se os nossos impostos fossem revertidos em estradas, em escolas, em hospitais, em empregos, assuntos que sempre fazem parte dos discursos políticos sem nunca virarem realidade.


Vivemos esmagados por uma minoria de instituições financeiras que enriquecem as nossas custas, nos escravizando através do crédito a juros escorchantes com o apoio dos políticos sob o discurso de que isso ou aquilo é para o bem da economia do país. E possivelmente estão certos, dentro do contexto da roubalheira globalizada!

Vivemos sob a ditadura da mídia, monopolizada por uma minoria de pessoas fazendo o jogo, e a serviço dos ‘poderosos’, ou seja, das grandes corporações, para conservar-lhes o poder, e manter o povo no ‘Abestalhamento Novelar Global’.
Vivemos sob o julgo de uma meia dúzia de multinacionais que produzem química, para agricultura, para remédios, para qualquer coisa e que nos envenenam, dia após dia, continuando a produção e a venda de produtos reconhecidamente nefastos à saúde, com a benção dos amigos políticos, mais uma vez.
Vivemos sob a dominação e ao ritmo de uma minoria abestalhada pelo futebol midiatizado, tendo que suportar, enquanto indivíduos, as gritarias, bebedeiras e sujeiras inerentes as comemorações futebolísticas, e tendo que arcar, enquanto cidadãos, com os custos da alegria dos foliões, tudo com a cumplicidade manifesta dos nossos gestores (leia-se, mais uma vez, os políticos, municipais, estaduais ou federais em busca de qualquer forma de ganhar um votinho aqui um outro acolá). Afinal, já o imperador Romano Júlio Cesar dizia: “Dêem-lhes pão e jogos”.


E por aí vamos... e pergunto, então:Haveríamos de acreditar na política oriunda desse sistema que rege o mundo atual?Ou, melhor, deveríamos fomentar a revolta e a revolução contra essa minoria nojenta que explora o ser humano desde a noite dos tempos e que ninguém, até hoje conseguiu remover?


por Leila Tebet
imagem por Piresss