domingo, 2 de junho de 2013

Acontece aqui em Bauru - São Paulo

Parque Vitória Regia antes do governo PT

Estudando o site do vereador de Bauru, Roque Ferreira [http://www.roquevereador.com.br/ ] fico surpresa, para não dizer pasma, com a apologia ao chavismo e à luta das "classes operárias" na Venezuela, aliás é bom salientar a fonte desse artigo mencionado 149/13 no site:
[ http://www.marxismo.org.br/?q=content/venezuela-apos-vitoria-eleitoral-aprofundar-revolucao ]
Não é pelo elogio ao que o Hugo Chavez fez no seu país, ele merece elogios pelo que fez, como críticas pelo que não fez, mas fico estarrecida com o endeusamento que estão fazendo dele (aqui no Brasil) e que os seus sucessores estão fazendo.
E tem até pior, o artigo cita as ameaças disfarçadas do presidente da Assembleia Nacional como sendo aviso, ou recomendação: "[...] Chávez era quem podia controlar o povo. Ele era o único que poderia conter qualquer insanidade e loucura.[...]" 
Já imaginou, só Ele! Que péssima opinião essas pessoas têm delas mesmas!

Mas bom, Chavez fez coisas boas para reformar a sociedade social venezuelana? Fez. Implantou programas sociais importantes e justos? Implantou. Demonstrou que outra forma de governar era possível. Demonstrou. E daí? Não faz dele um deus, mesmo porque exagerou no "eumesmismo", no culto a si próprio. Sem falar da polícia corrompida e da criminalidade altíssima. Mas lá é Venezuela...

E no Brasil? O que estão esperando para fazer coisa boa aqui mesmo?

O PT já vai para 12 anos de governo no Brasil e o que nos deixa: um mensalão, um programa assistencialista mínimo, um código florestal revisado para pior, um fortalecimento da classe ruralista no poder, uma catástrofe ambiental no São Francisco, uma reforma agrária parada, uns conflitos crescentes com as populações indígenas, um alastramento do crack nas classes mais desfavorecidas do país com recrudescência de moradores de rua, umas ferrovias inacabadas com trilhos imprestáveis enferrujando no meio do nada, umas instituições financeiras esbanjando dinheiro por escorchar a população com juros altíssimos... O que mais?

Vejo que as FARC na Colômbia, após anos de guerrilha, conseguiram que o Governo sente para discutir a reforma agrária.

Há quem diz que as FARC são marxistas. É bem prático dar esse nome para sujar aquele que conseguiu desmontar o capitalismo na teoria, e faz "bonito" ou "culto", além de politicamente conveniente atrelar um movimento revolucionário a um pensamento filosófico, supostamente marxista, que transforma a revolução popular em movimento político. Finalmente, é Marx que estava certo ao dizer que ele não era marxista!

Bom, as FARC são revolucionárias, isso sim, e se basta por si só. Imagina se os franceses da Revolução de 1789 tivessem de esperar Marx para acordar! E ninguém assemelhou esses revolucionários a Rousseau, Diderot ou Montesquieu que, no entanto, os influenciaram.
No caso das FARC, pode até se alegar que contra governos de direita sérvios dos EUA não havia escolha a não ser a luta armada... E é provável que foi, a princípio, a melhor opção, e isso era 50 anos atrás! 

Mas o que será do Brasil?

Após 8 anos de governo Lula, um operário, e 4 anos de governo Dilma, uma ex-combatente da direita reacionária... Onde ficou a reforma agraria?

Ao contrário, os ruralistas, os banqueiros e os grandes empresários parecem ser uma classe privilegiada nesses nossos governos petistas. Em outras palavras, estão reproduzindo (ou mantendo) exatamente o mesmo modelo que Marx tanto criticou.

Ou seja, fica um tanto deslocado se reivindicar marxista e petista quando se quer criticar o sistema em que vivemos no Brasil!

Inclusive, acho bastante insignificante se reclamar de uma ou de outra "tendência" ou "corrente". Se é imprescindível ter um embasamento filosófico e histórico para poder raciocinar sobre seu mundo, é tão necessário desenvolver sua própria reflexão quando se trata de abordar questões concretas, locais e atuais.

E é isso que me dá a pensar quando observo o referido site, tecnicamente bem feito, mas ideologicamente, e curiosamente, retrógrado.
Não posso entender como um pensamento engessado no século 19 poderia fazer a sociedade contemporânea melhor e solucionar seus problemas já que nossa sociedade tem, hoje, características fundamentalmente diferentes.

Felizmente tenho outras bases que me permitem uma compreensão melhor do meu mundo onde os problemas ambientais vieram se sobrepor aos problemas apenas sociais, em que a sociedade mudou totalmente de estrutura - mesmo se perdura o capitalismo enquanto modelo socioeconômico - na qual a luta de classe tal como a descreveu Marx não faz mais sentido, pois boa parte da classe operária já se diluiu numa classe média cada vez mais heterógena e em que a classe dominante são os políticos, por sua vez a serviço de A ou B.

A meu ver, esse modo de pensar seria engraçado, se não fosse catastrófico; um modo de pensar cujos efeitos danosos observo no dia a dia. Acontece que não precisa ter cabelo comprido nem ser barbudo para ser revolucionário! Isso me faz pensar nessas feministas que deixam crescer os pelos para expressar sua emancipação.

O que está se criando, de fato, é uma rachadura na sociedade. Essa corrente de pensamento que o vereador defende - não apenas ele, infelizmente - está gerando ódio, ao invés de gerar união, despertando rancor, no lugar de amor, e por isso mesmo só pode estar errada.

Um exemplo ilustrando esse ódio é um caso ocorrido na França.
[http://www.atlantico.fr/decryptage/obliges-fuir-quartier-parce-que-blancs-gros-plan-famille-victime-racisme-qui-interesse-pas-medias-stephane-maitre-741275.html ] (artigo em francês).
Um casal de Franceses, brancos, tradicionais, comprou um apartamento num bairro predominantemente habitado por magrebinos (Franceses originários da África do Norte). Eles foram discriminados e agredidos pela "minoria étnica" ao ponto de ter de serem retirados do conjunto habitacional sob proteção da Polícia após terem sido vítimas de agressão física chegando ao traumatismo craniano e outras fraturas nos dois homens, além de ameaças de represálias feitas às mulheres (mãe e filha).

Mas exemplos são inúmeros aqui no Brasil, e os recentes ataques aos dentistas que foram queimados são emblemáticos desse ódio. E esse ódio se alastra na juventude que é naturalmente rebelde e revolucionária e observamos isso através da criminalidade cada vez mais ostensiva dos menores de idade.

Também é esse ódio que pôde ser observado na Venezuela na divulgação dos resultados das últimas eleições nas quais, vai sem dizer, a diferença de menos de 1 ponto percentual entre os dois candidatos não demonstra uma vitória com V maiúscula do "herdeiro" chavista pela qual haja de se deslumbrar. Muito ao contrário, haveria de se questionar sobre essa "herança" e ver o que faltou para que seja de fato plena, indiscutível e geradora de melhorias no país e de paz.

Enfim prezado vereador Roque Ferreira, me permito essa reflexão pois acho que o seu engajamento filosófico está não somente remando contra a correnteza, mas também gerando efeitos fortemente indesejáveis. Claro que não está sozinho nesse barco; sei que você participa de um movimento mundial. Mas não é porque é mundial que está certo e conto com sua contribuição para levar a reflexão para esse movimento.
Quanto ao seu engajamento político, creio que é questionável também já que está afiliado a um partido que não demonstrou muita correspondência com as aspirações apresentadas. Mas talvez seja explicável pela conveniência de conquistar os eleitores, o que, no caso, mostraria de fato coerência com o seu partido.