quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cidade in Foco

Nesta época de campanhas eleitorais nós, cidadãos eleitores, ouvimos os sempiternos discursos apaziguadores nos prometendo sempre as mesmas mudanças, o mesmo futuro melhor.
Neste fim de semana, indo comprar meu pãozinho, deparei-me com um mendigo-morador de rua (sei lá) sentado na porta da padaria. Era um moço jovem, que certamente poderia prestar muitos serviços na cidade e que sua condição de pedinte nem permite. E está imagem trouxe a tona muitas outras imagens do gênero, desde os lançadores de limões, aprendizes de malabaristas, até os "estacionadores" e os "recicladores", entre outras formas disfarçadas de mendigagem.
Pense global, aja local!
Em junho de 1992, esta frase simbolizou a Cúpula das Nações reunida no Rio, apontando para a Agenda 21, uma bíblia para quem a leu, uma ameaça para os governantes, um documento inútil para a maioria que nem sabe do que trata.
No entanto, esta frase simples significa que, embora a questão da pobreza seja um problema mundial, a sua solução deve ser buscada localmente, cada realidade sendo uma, com suas características, suas especificidades e suas possíveis respostas.

Portanto devemos encontrar soluções locais aos problemas locais e o que cabe aos governantes nacionais e estaduais deve ser muito relativizado, salientando assim o necessário desprendimento do paternalismo surrado que faz com que os eleitores achem que elegendo fulano ou beltrano "seus problemas acabarão", por um lado, e, por outro lado, da velha demagogia que faz com que os políticos caiam sempre na armadilha do populismo e das promessas vazias de sentido.

Pense global e aja local!
O que poderia fazer por esse coitado pedindo esmola na porta da padaria? Dê-lhe cinquenta centavos...
É tão vergonhoso dar quanto pedir!
E é vergonhoso porque você sabe que não está resolvendo nada desta forma e que, talvez, até esteja dando-se boa consciência por 'ter ajudado'. Não está resolvendo nada porque, no dia seguinte, o moço terá de pedir de novo, e assim também os dias seguintes, porque quando se chega a certo grau de desumanidade, ou melhor, de de-cidadania, não há quantia que resolva porque a coisa mais difícil para ele conquistar ou reconquistar é a confiança na sociedade e no mundo em que está inserido, e isso não se compra.
E como a sociedade poderia lhe proporcionar esta confiança sendo excludente e desumana?
Não são belas palavras de políticos que vão confortar aquele que se encontra sem nada, e tampouco umas moedas que custam a dignidade de quem as pede. Será que a dignidade humana tem tão pouco valor?
Pense global e aja local!
Mas o que estão fazendo os nossos vereadores, o nosso prefeito, em suma, a administração pública? só passeando a custa dos nossos impostos e das verbas do governo?
Certo, acho que a sociedade como um todo deve encarar a questão da pobreza por se tratar de um problema social. Começa, a meu ver, cada um fazendo alguma coisa, a começar tendo, apenas, uma atitude diferente, um olhar diferente, incorporando que o bem estar de alguns não deva ocultar a miséria de outros. Mas os vereadores e a administração municipal são os nossos representantes e é deles que devem partir as iniciativas, inclusive a de envolver a sociedade. Todos adeririam, mas cadê uma proposta real, concreta, arrojada, pois não adianta pensar que band-aid resolve!
Estamos pagando muito caro os préstimos desses representantes que não apresentam propostas para resolver os problemas da cidade. Será que nossos impostos estão servindo devidamente os nossos interesses?
Ao invés disso, as propostas apontam a institucionalização da mendigagem através da 'regularização' desses 'trabalhadores informais' como li recentemente. Ora, vai legalizar o inconcebível?
Isso é dar manutenção ao problema da falta de educação e da marginalização social!
Precisa fazer alguma coisa para essas pessoas? Precisa! Mas não façam qualquer coisa que seja do tipo 'de fachada', tipo 'remendo', tipo 'jogar prá frente'. Precisa solucionar de fato, precisa sustentabilidade, precisa de um projeto duradouro aos problemas de mendigagem e de violência que assolam a cidade, dois problemas intimamente ligados.
Não é muito, o que precisa para quem não tem nada. A primeira é reconhecimento, a segunda, confiança, e a terceira é consideração. O resto, a educação faz.
Não carecemos de assistentes sociais e de educadores, todos querendo praticar o ofício pelo qual optaram e se formaram. Os espaços físicos custam menos que uma campanha eleitoral e duram mais tempo!
O que falta é vontade!... ou talvez coragem de ousar uma política social includente.
Mas, para viver verdadeiramente bem, precisamos resolver e sanar os problemas sociais que acometem a sociedade e a cidade, e precisamos do empenho dos gestores públicos que elegemos, muito antes do que elegermos outros.

por Leila Tebet

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