sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um novo mercado para venda de armas?


O comunicado do Departamento de Estado dos EUA chamando a "levar a sério" as denúncias da Colômbia sobre a presença de guerrilheiros colombianos na Venezuela soa como uma ameaça a paz no continente.
De fato, dentro do contexto atual, esse ato de 'meter o bico' é, no mínimo, provocativo, se não ingerência. E esse intrometimento dos EUA é muito oportuno às vésperas das eleições presidenciais brasileiras nas quais está parecendo se confirmar a continuação do governo de esquerda, ou seja, do PT, mas sem Lula.
Muito oportuno em um momento em que o atual presidente Uribe está deixando o lugar para o Juan Manuel Santos que, coincidentemente, convidou o Hugo Chavez na sua cerimônia de posse, tentando, talvez, marcar um relaxamento nas relações Colombo - venezuelanas e uma abertura à reaproximação dos dois países[1].
E se esse gesto de reaproximação escondesse um afastamento da política de Washington com relação ao subcontinente e o possível 'fechamento' das bases estadunidenses no território colombiano?
É estranho porque Uribe, que trabalhou durante anos a minar as relações com o vizinho Chavez, está a duas semanas de deixar o cargo e, justo agora, vem implicar com um assunto cujos dados estão conhecidos dele já faz tempo e em um momento em que as próprias FARC estão perdendo forças. Além disso, o corte das relações comerciais pela Venezuela fez cair as exportações da Colômbia em mais de 70%, provocando a perda de milhares de empregos no país. Por outra parte, Uribe está deixando uma situação caótica relativamente aos para-militares que são apontados como responsáveis pela morte de milhares de pessoas, dentre as quais muitas crianças [2].
Relacionando com o Brasil, acontece que o chilique do Uribe, apoiado descaradamente pelos EUA, surge em um momento em que o PT está a caminho de vencer mais uma vez as eleições em outubro próximo, mas, desta vez, com outra figura que o Lula. Lembraremos que Lula tinha se comprometido a manter os fundamentos da estabilidade econômica durante a campanha de 2002 para consolidar sua candidatura frente a um PSBD enfraquecido pelo estado de crise em que se encontrava o país [3].
Estamos diante da mesma incógnita que na campanha do PT de 2002: não se sabe qual será a influência da franja mais radical do PT sobre o próximo governo petista e a imagem da candidata Dilma não convence tanto quanto o carisma do então candidato Lula. E daí a campanha construída em torno da Dilma e da sua relação à luta armada durante a ditadura militar, bem como a associação do PT com as FARC colombianas, denúncias que vem a tona justamente ao mesmo tempo em que o Uribe lança seu ataque ao Chavez.
E o círculo se completa!
Os EUA se usam da sua influência, através do Uribe e provavelmente de articulações políticas também no Brasil, para desafiar o Chavez e tentar o golpe de desestabilização política no subcontinente, mesmo que seja através de um conflito armado.
Afinal, o que é importante para o irmão do norte é reconquista da sua influência na América latina, que está cada vez mais enfraquecida, inclusive com a recente criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) [4] como alternativa declarada à OEA, há tempo desacreditada junto aos novos governos do continente. Justamente, a não-inclusão dos EUA (nem Canadá), assinala a vontade de distanciamento do bloco sul-americano sob a impulsão dos governos a tendência esquerdista da Venezuela e do Brasil pelos mais influentes.
No início de julho, a Secretária de Estado Hillary Clinton já tinha lançado, em discurso, uma ameaça disfarçada, denunciando o “perigo à democracia” na Venezuela (em associação à China e Rússia) enquanto ocorria uma reunião da CELAC em Caracas [5].

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Caminhando para o futuro



A idéia de solidariedade é uma linda idéia. Pode até parecer obsoleta, mas é uma relação essencial da vida. A noção de solidariedade espaço-temporal leva à tomar consciência da interdependência existente entre os seres vivos e do frágil equilíbrio do qual resulta a vida na Terra. Esta inter-relação é espontaneamente presente no "pensamento selvagem" enquanto nós desenvolvemos, nas nossas sociedades, um sistema de raciocínio dicotômico que faz com que temos uma visão apenas utilitária da Natureza.
O grande negócio da nossa época é a tecnologia. Não passa um dia sem que se fale em algum avanço tecnológico que seja uma promessa para o futuro. Alias se fala sempre do futuro quando se trata do nosso bem, para escaparmos de um presente doloroso que logo seria entregue ao passado. Mas essa falácia gramatical não impede uma perda muito grande dos nossos valores humanos, e jamais, na História, o Ser humano esteve tão distante da Natureza à qual pertence. Ao lado do progresso tecnológico, os conhecimentos tradicionais, colhidos por comunidades de indivíduos nas suas relações com a Natureza, estão se perdendo, e milhares de espécies, algumas das quais nem temos conhecimento, estão desaparecendo dia após dia.
Em paralelo, essa decomposição das nossas relações com a Natureza nos leva ao desprezo pelo trabalho manual; trabalho que desde a noite dos tempos nos permite nos alimentarmos e construir nossas moradias, trabalhos mais essenciais dentre quaisquer outros.
No entanto, é a partir desta idéia de solidariedade que nasce a idéia de desenvolvimento sustentável que junta a solidariedade geográfica (ajuda entre os indivíduos) e a solidariedade temporal (consideração das gerações futuras).
Encontramo-nos, hoje, numa encruzilhada.
O Ser humano encontra-se, claramente, a serviço da economia enquanto o bom senso sugere o contrário. A Natureza não é mais considerada como componente da vida, mas sim subordinada à Humanidade e até dependente dela, pois tem de protegê-la das nossas agressões diárias. O trabalho é desprezado diante do "conhecimento" e nossa atenção voltada para as promessas tecnológicas, bem como os conhecimentos tradicionais diante do conhecimento científico.
Essa constatação nos leva a nos perguntarmos sobre quais soluções para conter uma ciência que nos faz negar a Natureza?
E se devemos ficar otimistas diante de uma noção tão angustiante quanto é o desenvolvimento sustentável (por não termos preparo para tanto), cabe-nos tomar consciência da necessidade de sairmos de um sistema que nem nos permite enxergar o essencial: simplesmente que a Natureza é a vida.


Compilação a partir do blog Alter Eco de comércio solidário

domingo, 18 de julho de 2010

Olavo de Carvalho - Brasil e Brasileiros

"Somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa do que o ato de conhecer."

sábado, 17 de julho de 2010

Eu não acredito no Brasil

A política está desacreditada no Brasil: uma triste realidade, inegável. E pelo fato de ser, da mesma forma, desacreditada no mundo inteiro (salvo algumas poucas exceções, talvez) é para se perguntar se, de fato, o Sistema político, chamado por alguns de "democracia", não é a própria causa do fracasso.Pois, fato também inegável, a maioria daqueles que ocupam o Congresso brasileiro são bandidos!! Mesmo se todos não tem 'ficha suja', no mínimo são 'candidatos a', pelas conivências, pelas alianças escusas, pelos 'rabos presos', em algum momento das suas vidas políticas.E como haveria de ser diferente na herança duvidosa de um sistema político fundamentado no oligarquismo, no clientelismo e na corrupção, que poluiu as mentes durante 21 anos: uma geração inteira!

Interessante é de se perguntar, também, do por que foram eleitos. A resposta é simples, e óbvia: porque foram candidatos! E que só havia opção entre uns candidatos já bandidos e outros duvidosos, resultado do sistema anterior, fundador da consciência política contemporânea, atual.Esse quadro, potencializado no Brasil pela ditadura militar, se observa em outros países, até nas tradicionais 'democracias' tomadas como exemplos nos quais se costuma espelhar-se. Mas, lá também, o espelho está embaçado e a democracia é tão ilusória quanto aqui, embora compensada pelo engajamento político individual que faz as pessoas irem às ruas protestar quando o vaso transborda.

Mas por que será que as pessoas "de bem" não se candidatam?Justamente por desacreditarem...Mas será que há alguma coisa em acreditar, ou esperar, dentro de um sistema tão falho quanto esse sistema globalizado da corrupção, da bandidagem e da absolvição predeterminada?Por outra parte, é muito difícil, quando não impossível, sair um candidato que não compactue com o 'establishment', que não faça parte de um partido político, que não entre no sistema que faz eleger alguém 'pela legenda'!!!O sistema é mesmo anti-democrático, não há dúvida. Na realidade, estamos a mercê de um sistema nada democrático em que nada nos leva a acreditar nele. Estamos vivendo em um sistema no qual reina a ditadura das minorias!

Vivemos com medo sob a pressão de uma minoria de bandidos cuja violência nos tranca dentro de casa após as 19 horas, e a polícia, que deveria proteger o cidadão, está sendo reduzida em efetivos a medida que a população (global e marginal) aumenta, por decisão dos nossos administradores, enquanto nossos legisladores buscam beneficiar a população carceral (com férias, bolsa bandido, e outras 'regalias' exóticas), isso quando o nosso judiciário não os liberta, simplesmente.


Vivemos espremidos sob uma carga tributária que nos é imposta por uma minoria de políticos que desviam esses recursos públicos em benefício próprio. Acreditaríamos se os nossos impostos fossem revertidos em estradas, em escolas, em hospitais, em empregos, assuntos que sempre fazem parte dos discursos políticos sem nunca virarem realidade.


Vivemos esmagados por uma minoria de instituições financeiras que enriquecem as nossas custas, nos escravizando através do crédito a juros escorchantes com o apoio dos políticos sob o discurso de que isso ou aquilo é para o bem da economia do país. E possivelmente estão certos, dentro do contexto da roubalheira globalizada!

Vivemos sob a ditadura da mídia, monopolizada por uma minoria de pessoas fazendo o jogo, e a serviço dos ‘poderosos’, ou seja, das grandes corporações, para conservar-lhes o poder, e manter o povo no ‘Abestalhamento Novelar Global’.
Vivemos sob o julgo de uma meia dúzia de multinacionais que produzem química, para agricultura, para remédios, para qualquer coisa e que nos envenenam, dia após dia, continuando a produção e a venda de produtos reconhecidamente nefastos à saúde, com a benção dos amigos políticos, mais uma vez.
Vivemos sob a dominação e ao ritmo de uma minoria abestalhada pelo futebol midiatizado, tendo que suportar, enquanto indivíduos, as gritarias, bebedeiras e sujeiras inerentes as comemorações futebolísticas, e tendo que arcar, enquanto cidadãos, com os custos da alegria dos foliões, tudo com a cumplicidade manifesta dos nossos gestores (leia-se, mais uma vez, os políticos, municipais, estaduais ou federais em busca de qualquer forma de ganhar um votinho aqui um outro acolá). Afinal, já o imperador Romano Júlio Cesar dizia: “Dêem-lhes pão e jogos”.


E por aí vamos... e pergunto, então:Haveríamos de acreditar na política oriunda desse sistema que rege o mundo atual?Ou, melhor, deveríamos fomentar a revolta e a revolução contra essa minoria nojenta que explora o ser humano desde a noite dos tempos e que ninguém, até hoje conseguiu remover?


por Leila Tebet
imagem por Piresss